Rivane Neuenschwander & José Bezerra — Acauã e o fantasma
Março — Outubro 2020
Rivane Neuenschwander
José Bezerra

Acauã e o fantasma
Março — Outubro 2020

Curadoria
Gisela Domschke

A exposição “Acauã e o fantasma” apresenta um diálogo entre a obra de Rivane Neuenschwander e do artista pernambucano José Bezerra. A artista mineira mostra pela primeira vez no Brasil a série Caça ao Fantasma (2018), enquanto Bezerra dispõe esculturas pelo espaço expositivo.

Em um conjunto de cinco trabalhos formados por polípticos de seis partes, Caça ao Fantasma mostra tentativas de revelar a palavra “fantasma” em mapas ocultos por uma película branca. Seis diferentes pessoas foram convidadas pela artista para raspar com o estilete o mesmo desenho de uma criança. Como uma “raspadinha”, nesses trabalhos vemos o registro de diferentes sensibilidades no acesso de uma forma velada. Esse desenho tateante remete também ao rastro de lesma que desenhava a série de trabalhos A Aturdita, que Neuenschwander desenvolveu em 2014.

De maneira similar, as esculturas de José Bezerra parecem revelar também um desenho insinuado na madeira encontrada, dando formas que fazem parte do imaginário do artista. Bezerra enxerga nos troncos, nos galhos e nas raízes, imagens de animais que comeu. Com o facão talha o lenho para fazer aparecer a figura, que ainda assim não perde seu vínculo com a matéria vegetal.

Com curadoria de Gisela Domschke, a mostra abre um diálogo entre duas práticas distintas, mas que endereçam o desejo como a produção do real, seja no fantasma de contornos psicanalíticos de Neuenschwander ou na forma pulsante de Bezerra. Ambas podem ser vistas como diferentes perspectivas sobre estar neste mundo, suas distâncias externas e internas, suas variações que relacionam, suas diferenças que revelam as múltiplas vistas do ponto.

Na abertura da exposição, foi também realizada a exibição do filme em película Diários de Pangaea (2008) de Neuenschwander, onde formigas interagem com um mapa-mundi de finas fatias de carne na forma do supercontinente, que existiu há 300 milhões de anos.

Vistas da exposição
Fotografia: Ding Musa
Rivane Neuenschwander: obras
Rivane Neuenschwander
Caça ao Fantasma I, 2018
poliptico | 89 x 187,5 cm
Rivane Neuenschwander
Caça ao Fantasma II, 2018
poliptico | 89 x 187,5 cm
Rivane Neuenschwander
Caça ao Fantasma III, 2018
poliptico | 89 x 187,5 cm
Rivane Neuenschwander
Caça ao Fantasma IV, 2018
poliptico | 89 x 187,5 cm
Rivane Neuenschwander
Caça ao Fantasma V, 2018
poliptico | 89 x 187,5 cm
José Bezerra: obras
José Bezerra
Sem título, 2008
65 x 47 x 30 cm
José Bezerra
Sem título, 2011
80 x 29 x 29 cm
José Bezerra
Sem título
44 x 46 x 11 cm
José Bezerra
A primeira cobra, 2019
64 x 123 x 65 cm
José Bezerra
Cabeça de Cobra, 2008
85 x 25 x 20 cm
José Bezerra
Sem título, 2011
60 x 15 x 30 cm
José Bezerra
Fantasma, 2011
68 x 14 x 24 cm
José Bezerra
Acauã, 2014
50 x 24 x 26 cm
José Bezerra
Assombração da madrugada, 2019
90 x 24 x 26 cm
José Bezerra
Sem título, 2011
63 x 9 x 32 cm
José Bezerra
Macaco, 2019
57 x 35 x 23 cm
José Bezerra
Sem título, 2019
53 x 73 x 26 cm
José Bezerra
Sem título, 2011
32 x 13 x 114 cm
Texto curatorial
por Gisela Domschke

Cala a boca acauã
Que é pra chuva volta cedo
O riacho bota a enchente
Alguém chora de medo

José Bezerra, 2020

 

Teria a ver com a coisa da repetição
Seria a sombra
Teria relação com a fantasia
Estaria debaixo de todas as camadas do inconsciente
Seria aquilo que volta
Justamente isso que está por trás, ali, incomodando, assombrando a gente
Nem sempre a gente tem nome pro fantasma

Rivane Neuenschwander, 2020

A língua que reflete coisas que vivemos, nossa linguagem real, uma linguagem que é fundo-forma. Duas imagens, a do acauã e a do fantasma. Dois contos numa relação de troca. Um dos temas que junta os dois é o tema da volta, se quiserem.

É uma diegese meio estranha, (talvez) um ‘agenciamento enunciativo bizarro’. Na verdade, é claro, é sempre um modo de falar. Os modos de falar estão envolvidos nesses devires o tempo todo, um acauã na palavra cantada, no tronco morto que vira pássaro, assim como o fantasma na palavra escrita, do outro lado do vidro velado, raspado em tantos caminhos. Temporalidades distintas, mas (tão pouco) metamorfoses. Podemos pensar em práticas rituais do desejo de viver.

 

Sobre a artista: Rivane Neuenschwander

Rivane Neuenschwander (1967, Belo Horizonte) graduou-se na Universidade Federal de Minas Gerais em 1993 e fez um curso de extensão no Departamento de Escultura do Royal College of Art de Londres. O trabalho de Neuenschwander tem sido objeto de exposições individuais em locais como o Museu de Arte do Rio – MAR ; Museu de Arte Moderna (São Paulo, 2014), New Museum of Contemporary Art (Nova York, 2010); Malmö Konsthall (Malmo, 2010); Palais de Tokyo (Paris, 2003) e Walker Art Center (Minneapolis, 2002). Participou também na Bienal de Istambul ; Bienal de São Paulo (1998, 2006 e 2008); Bienal de Veneza (2003 e 2005); e do Carnegie International, em Pittsburgh (2008). Em 2004, ela foi selecionada para o Hugo Boss no Museu Guggenheim, em Nova York, e em 2013, foi premiada como Prêmio Yanghyun pela Fundação Yanghyun na Coréia do Sul. Sua obra está nos mais importantes acervos de arte comoo do MoMA – Museum of Modern Art (Nova York); Fundación Jumex Arte Contemporáneo (Cidade do México); TateModern (London); TBA – Thyssen-Bornemisza Art Contemporary (Vienna); Solomon R. Guggenheim Museum (NewYork); Instituto Inhotim (Brumadinho).

Sobre o artista: José Bezerra

José Bezerra (1952, Buíque) vive no Vale do Catimbau, onde trabalhou grande parte de sua vida como lavrador. Em 2005 iniciou sua produção artística esculpindo animais, beatas e outras criaturas de seu imaginário em madeiras encontradas naregião. Desde então, realizou exposições individuais na Galeria Estação (São Paulo, 2009 e 2015); além de participar de exposições Institucionais na Fondation Cartier pour l’art contemporain (Paris, 2012 e 2014); MAM – Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro, 2013); Instituto Tomie Ohtake (2012) e SESC Paulista (São Paulo, 2007) entre outras. Sua obra faz parte de importantes coleções como da Fondation Cartier pour l’art contemporain (Paris); MAM – Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro); Museu AfroBrasil (São Paulo); Pinacoteca do Estado de São Paulo; SESC Belenzinho (SãoPaulo) e do Tropenmuseum junior (Amsterdã).