A prática de Renata De Bonis está ligada a retiros em lugares isolados, em paisagens que poderiam evocar o sublime, mas também em ambientes conhecidos. Nesse sentido, estar em imersão em espaços mais ou menos delimitados é parte de sua trajetória e não diz apenas dos acontecimentos recentes. A pintura, que fez parte de seu vocabulário inicial, foi retomada após trabalhar com materiais que vinham diretamente dessas paisagens naturais e culturais.
Em suas pinturas recentes, produzidas na zona rural paulista, a artista apresenta uma pluralidade de motivos, com generosa atenção aos detalhes da vida cotidiana: folhas no chão; uma flor; ou a cena onde o retrato é substituído pela imagem da capa do livro de Tennessee Williams, que protege o rosto da luz vertical do sol.
Simultaneamente à exposição no auroras, Renata De Bonis mostra um grupo de pequenas obras no estábulo do sítio, onde foram produzidas. O conjunto de pinturas que se encontram nesse espaço são variações de cenas lunares, assinalando o interesse recorrente da artista pela luz e seus efeitos. Próximo ao estábulo encontra-se ainda um orquidário abandonado onde se pode escutar uma instalação sonora, composta por gravações de campo – que desenham uma paisagem sonora do sítio – mixadas a uma camada instrumental de piano e violão e a repetição mântrica da frase “sono leve” que dá nome à exposição. Esse mesmo trabalho é reproduzido na biblioteca do auroras.
Esse “Sono Leve” não foi contaminado pelo pesadelo, pelo contrário, reflete um bem-estar luminoso; o olhar continua focando em enquadramentos de cenas familiares que o ambiente proporciona e pode se demorar neles, tem tempo.