Eu esbarro em coisas, eu bato contra possibilidades parcialmente vendado; eu ando sonambulo. Eu murmuro em meu sono e depois me respondo. Eu acordo quando não estou dormindo; eu durmo enquanto estou acordado.
Tom Burr, “sem título”, 2011
A obra nasce de apenas um toque na matéria. Quero que a matéria de que é feita a minha obra permaneça tal como é; o que a transforma em expressão é nada mais que um sopro; sopro interior, de plenitude cósmica. Fora disso não há obra. Basta um toque, nada mais.
Hélio Oiticica, in “Aspiro ao grande labirinto”, 1960
Exposições tem a ver com expor-se. Elas expõem espaços, objetos e ideias sob intensa luz para o escrutínio do olhar do público. Artistas têm exposição, atenção garantida, por meio do jogo de se fazer uma exposição, enquanto também atuam em uma rede de expectativa e desejo: mostrar, conectar, revelar, expor. Artistas são expostos. Eu sou exposto. E tenho fantasias sobre me expor para você enquanto seguro um espelho para expor você de volta.
Hélio-Centricidades: Coda foi feita para ser um encontro amoroso entre o espaço expositivo, Hélio Oiticica e eu. Por meio de modos de influência e mimetismo, e de perder-se um no outro – outro objeto, outro corpo, outro cérebro –, eu queria colidir parcialmente aquilo que faço com o que Oiticica fez, borrando assim as linhas entre nossos eus e expondo nossas afinidades e distâncias.
No auroras, em São Paulo, onde o projeto começou, trabalhei e dormi durante o mês de março em quartos que ficavam logo acima do espaço expositivo. Como antes aquele era um espaço doméstico, há ali uma intimidade persistente que marcou o trabalho. Há também uma rigidez de contenção e proteção, e uma ansiedade específica do dentro versus o fora do embrulho da casa, que também afetou meus pensamentos.
No Parque Lage, também existe um legado de propriedade privada, mas há ainda uma fluidez arquitetônica no local, e me vi considerando as várias salas e corredores formados por passagens e aberturas complexas na paisagem da floresta do parque adjacente – potenciais espaços para mostrar, conectar, revelar, expor – junto aos espaços institucionais da escola. Vaguei pelos dois, e imaginei como os corpos se transformam de um a outro, em quem é possível transformar-se, e quais exposições específicas estão em jogo.
Tom Burr