Tudo vai mal, tudo
Tudo mudou não me iludo e contudo
A mesma porta sem trinco, o mesmo teto
E a mesma lua a furar nosso zinco
A claraboia da biblioteca é revestida com placas de zinco na intervenção de Carolina Cordeiro. Fazendo referência direta à estrutura arquitetônica, ao elemento construtivo precário que é o teto de zinco de barracões, a artista toca questões urgentes de moradia no país, ao mesmo tempo em que saúda toda uma tradição do samba e da música popular brasileira que traz em suas letras a figura do “teto de zinco”.
Embora não seja um material que levamos tradicionalmente como construtivo, a artista vem explorando essa materialidade que tem também uma conotação afetiva. Seu primeiro trabalho com zinco encontra-se em nova conformação no andar superior do auroras, nos “castelinhos de cartas” que se articulam junto aos livros das estantes. Na mesma sala, um conjunto de nove colagens da série Há uma observação a ser feita reestruturam, numa espécie de poesia concreta, fichas catalográficas de arquivos públicos.
Com meios precisos, Carolina Cordeiro cria trabalhos que se constituem em relação com o espaço para o qual foram criados. Os procedimentos simples modificam todo o ambiente que, no caso de Dizem que há um silêncio todo negro, altera a iluminação da biblioteca sendo perfurada – feito tiro em barracão – pela luz do sol ou da lua, que de dia salpica o chão de leves brasas e a noite fulgura um céu estrelado.