Pequenas Pinturas – Ato I
02 Julho - 13 Agosto 2022
Pequenas Pinturas – Ato I
02 Julho - 13 Agosto 2022

Ato I:

Alexandre Wagner

Alex Cerveny

André Ricardo

Bruno Dunley

Cristina Canale

Flora Rebollo

Giulia Puntel

Gokula Stoffel

Marcela Cantuária

Márcia Falcão

Paulo Whitaker

Rafael Alonso

Tiago Mestre

Curadoria: Pollyana Quintella e Ricardo Kugelmas

Há seis anos, a primeira exposição do auroras reunia um conjunto de pinturas em pequeno formato, com organização de Bruno Dunley. Seguindo o mesmo princípio dessa mostra inaugural, Pollyana Quintella e Ricardo Kugelmas reuniram obras de 27 artistas divididas em dois atos diferentes. A curadora deixa claro que “Não há recursos narrativos ou temáticos que justifiquem a aproximação de todos esses nomes. O que os une, o que nos une, é o amor pelo pequeno, o desejo de jogar com ele e observar quantos infinitos cabem em cada um desses fragmentos.” De modo geral, a exposição apresenta certa diversidade presente na pintura brasileira contemporânea, produzindo um diálogo entre gerações e diferentes perspectivas.

 

 No percurso dessa casa, o público poderá encontrar, ao longo desses dois atos, quase uma centena de pequenas pinturas em diferentes cômodos do auroras. É característica desse formato, certa intimidade na experiência com a obra, que exige uma aproximação corpo-a-corpo para deslindar as nuances dos gestos reduzidos.

 

Pelo viés da produção, o pequeno formato “também permite, em alguns casos, um maior desprendimento e entrega à experimentação. Nas visitas aos ateliês, não é raro toparmos com miniaturas que apontam novos capítulos por vir, como pequenas frestas produzidas no léxico dos artistas. Ao contrário dos formatos maiores, o pequeno convida a mão a exercitar o erro, isto é, traçar e vislumbrar novos caminhos dentro da pesquisa; é o pequeno enquanto esboço e projeto, aposta autorizada no não sabido” mas também na elaboração de pequenas e elaboradas joias.

 

Dessa maneira, convidamos o público a costurar seu próprio caminho no encontro com esse grupo bastante heterogêneo de singulares pinturinhas que se avizinham nos diversos cantos dessa casa.

 

Vistas da exposição
Fotografia: Ding Musa
Obras
Bruno Dunley
Espelho III, 2017
tinta óleo sobre tela
30 x 23 cm
André Ricardo
Estudo, 2022
Tempera ovo sobre linho
16 x 22 cm
André Ricardo
Sem título, 2022
Tempera ovo sobre linho
60 x 30 cm
Marcela Cantuária
Dalton, 2019
óleo sobre tela
40 x 30 cm
Tiago Mestre
Museum, 2020
óleo sobre tela
30 x 25 cm
Alex Cerveny
Minha carne é de carnaval, 2022
Óleo sobre tela
24 x 18 cm
Alex Cerveny
Quero beijar-te as mãos, 1995
Óleo sobre tela
40 x 30 cm
Alex Cerveny
Todos os Santos, 2022
Óleo sobre tela
40 x 30 cm
Alex Cerveny
Mano Poderosa, 2022
Óleo sobre tela
35x 27 cm
Tiago Mestre
Sem Título, 2020
Óleo sobre tela
30 x 25 cm
Cristina Canale
Verde I, 2018
tinta à óleo sobre tela
20,3 x 20,3 cm
Cristina Canale
Flor, 2018
Tinta à óleo sobre tela
22,9 x 48 cm
Flora Rebollo
Teimoso, 2022
bastão oleoso e tinta óleo sobre tela
47 x 36 cm
Giulia Puntel
Barriguinha, 2022
Óleo sobre cerâmica fria
18 x 14 x 4 cm
Gokula Stoffel
O desmaiar do dia, 2022
Óleo sobre cartão entelado
25 x 20 cm
Alexandre Wagner
Sem título, 2022
Óleo sobre tela
40 x 30 cm
Bruno Dunley
Sertão, 2014
tinta acrílica e óleo sobre tela
24 x 30 cm
Paulo Whitaker
Sem título, 2019
óleo sobre tela
18 x 23 cm
Flora Rebollo
Sem título, 2019
tinta óleo e lycra costurada em tela
30 x 25 cm
Gokula Stoffel
Atravessa!, 2022
Óleo sobre tela
18 x 24 cm
Cristina Canale
Bolinhas, 2018
tinta à óleo sobre tela
30,5 x 30,5 cm
Márcia Falcão
Autorretratos sinceros, 2018
Acrílica sobre tela
Tríptico | Cada, 22 x 16 cm
Márcia Falcão
Estudo sobre Ex-mulher 1, 2021
Acrílica sobre tela
40 x 30 x 3 cm
Márcia Falcão
Estudo sobre Ex-mulher 2, 2021
Acrílica e carvão sobre tela
40 x 30 x 3 cm
Márcia Falcão
Estudo sobre Ex-mulher 3, 2021
Carvão sobre tela
40 x 30 x 3 cm
Cristina Canale
Chuva no Agreste, 2017/2021
técnica mista sobre linho
44 x 50 cm
Bruno Dunley
Sem título, 2018
tinta óleo sobre tela
30 x 24 cm
Bruno Dunley
Zero, 2015/2021
tinta óleo sobre tela
23 x 30 cm
Paulo Whitaker
Sem título, 2020
óleo sobre tela
30 x 20 cm
Marcela Cantuária
Sem título, 2016
óleo sobre tela
20 x 36 cm
Rafael Alonso
Filhos de Phill Collins feelings, 2019
Tinta acrílica sobre compensado
35 x 54 cm
Cristina Canale
Tasche, 2018
óleo sobre tela
35 x 30 cm
Gokula Stoffel
Mornidão, 2022
Óleo sobre cartão entelado
27 x 35 cm
Rafael Alonso
Il Bagno d'oro, 2022
Acrílica sobre compensado
30 x 40 cm
Rafael Alonso
Sem título, 2021
Acrílica sobre compensado
28 x 25 x 13 cm
Rafael Alonso
Geosmina Swell, 2022
Acrílica sobre madeira
26 x 39 cm
Paulo Whitaker
Sem título, 2021
óleo sobre tela
30 x 20 cm
Paulo Whitaker
Sem título, 2021
óleo sobre tela
30 x 20 cm
Paulo Whitaker
Sem título, 2021
óleo sobre tela
30 x 20 cm
Tiago Mestre
Sem Título, 2020
Óleo sobre tela
30 x 25 cm
Tiago Mestre
Sem Título, 2020
Óleo sobre tela
18 x 15 cm
Tiago Mestre
Sem Título, 2020
Óleo sobre tela
18 x 15 cm
Tiago Mestre
Costume, 2020
óleo sobre tela
30 x 25 cm
Tiago Mestre
Soul House, 2020
Óleo sobre tela
18 x 15 cm
Tiago Mestre
Mask, 2019
óleo sobre tela
30 x 25 cm
Tiago Mestre
Sem Título, 2020
Óleo sobre tela
30 x 25 cm
Alexandre Wagner
Sem título, 2022
Óleo sobre tela
40 x 30 cm
Alexandre Wagner
Sem título, 2022
Óleo sobre tela
40 x 30 cm
Alexandre Wagner
Sem título, 2022
Óleo sobre tela
40 x 30 cm
Alexandre Wagner
Sem título, 2022
Óleo sobre tela
40 x 30 cm
Alexandre Wagner
Sem título, 2022
Óleo sobre tela
40 x 30 cm
Bruno Dunley
X, 2014
tinta óleo sobre tela
30 x 24 cm
Flora Rebollo
Labirinto, 2019
óleo sobre tela
30x25cm
Giulia Puntel
Mulher aranha, 2022
Óleo sobre cerâmica fria e arame
23 x 24,5 cm
Flora Rebollo
Sol e chuva, 2022
Tinta acrilica, tinta óleo, bastão oleoso e giz pastel seco sobre tela
41 x 31 cm
Gokula Stoffel
Quiromancia, 2022
Óleo sobre tela
69 x 50 cm
Bruno Dunley
Sem título, 2018
Tinta óleo sobre tela
24 x 30 cm
Alex Cerveny
Buenas Noches, 1999
Óleo sobre tela
22 x 16 cm
Rafael Alonso
Il tesoro degli italiani, 2022
Acrílica sobre compensado
19 x 16 cm
Marcela Cantuária
ELN , 2018
óleo sobre tela
10 x 10 cm
André Ricardo
Sem título, 2022
Tempera ovo sobre madeira
20 x 14 x 5,5 cm
André Ricardo
Estudo, 2022
Tempera ovo sobre linho
20 x 20 cm
Paulo Whitaker
Sem título, 2018
Óleo sobre tela
20 x 27 cm
Cristina Canale
Grüner Lack, 2017
Técnica mista sobre tela
30 x 30 cm
Cristina Canale
Coffee Break, 2017
Técnica mista sobre tela
30 x 30 cm
Texto Curatorial
Pollyana Quintella

O amor pelo pequeno

  “A sua pequenez é, ao mesmo tempo, um todo e um fragmento.
O amor pelo pequeno é uma emoção infantil”
Marcel Duchamp imaginado por Enrique Vila Matas

  

Pequenas pinturas têm um passado rico e celebrado, avessas à grandiosa afirmação visual em favor de uma leitura mais doméstica e localizada. O menor nos seduz por muitos motivos, dentre eles a possibilidade de imaginar que estamos lidando com algo desvinculado das grandes linhas do senso comum – o pequeno como antagonista do majoritário, avesso daquilo que nutre uma opinião em torno de certa centralidade reconhecida como evidente.

Mas a escala mínima permite, antes de tudo, a fácil circulação dos objetos, e a portabilidade como promessa de autonomia é algo que atravessa a história da produção criativa. Lá no princípio dos homens, os paleolíticos já carregavam de um lado pro outro as venuzinhas de terracota, cultuando curvas e desejos. Caberia muita coisa nessa lista: os muiraquitãs amazônicos, os netsukes japoneses, as illas bolivianas, as guias do candomblé, o escapulário católico, a figa romana, o hamsá islâmico, a foto da pessoa amada na carteira…. O pequeno nos faz companhia, nos deixa menos sós.

Além disso, o miúdo nos exige certo grau de intimidade, nos fazendo aproximar o corpo do objeto, acercar o olho, curvar a coluna e quem sabe farejar um resto de cheiro da matéria dada ao campo de visão. Pequenas obras convidam o público a abandonar a experiência visual às vezes rápida e arrebatadora da tela maior por uma visão mais matizada e medida. A visão aguda substitui a “periférica”, na promessa de que ocorra um envolvimento mais ativo. Noutras palavras, é muitas vezes com pequenas pinturas que experimentamos um “corpo a corpo”, acompanhados da estranha e sedutora sensação de que estamos diante de singelos segredos sussurrados.

O pequeno formato também permite, em alguns casos, um maior desprendimento e entrega à experimentação. Nas visitas aos ateliês, não é raro toparmos com miniaturas que apontam novos capítulos por vir, como pequenas frestas produzidas no léxico dos artistas. Ao contrário dos formatos maiores, o pequeno convida a mão a exercitar o erro, isto é, traçar e vislumbrar novos caminhos dentro da pesquisa; é o pequeno enquanto esboço e projeto, aposta autorizada no não sabido. Noutra via, tal liberdade também nos aproxima da ludicidade infantil, nos conectando ao imaginário dos brinquedinhos, casas de boneca e pecinhas dos jogos de tabuleiro, e que menciona, por sua vez, tudo aquilo que não deseja ser necessariamente oficial, passando despercebido entre maletas, bolsos, carteiras, caixinhas, garrafas ao mar, corvos mensageiros e pombos-correio.

Mas há pouca ou nenhuma regra por aqui – lembremos que algo fundamental para as práticas artísticas contemporâneas é justamente a sua impropriedade e, portanto, nos cabe a sensibilidade de disputar o impróprio no trânsito entre o coletivo e o particular, sem maiores generalizações. Se há aqueles que encontram no pequeno o convite à errância, há também, na via inversa, os que assumem tal formato como território para exercer a minúcia com ainda mais plenitude, controlando o percurso de cada fio do pincel sobre a superfície. Daí, não falamos da mão solta do rascunho propositivo, mas da mão que lapida a joia: a mão cirúrgica.
Outra confusão que deve ser desfeita é a de que a forma breve seja, consequentemente, uma forma sintética. No campo visual, há pequenas obras que carregam consigo “imensas cosmologias, sagas e epopéias encerradas nas dimensões de um epigrama”, tomando aqui emprestado algumas palavras de Italo Calvino. O mínimo também sabe ser barulhento e ambicioso, quando assim lhe convém. José Paulo Paes dizia que Manuel Bandeira era um poeta “menor menormenormenormenor”. São, ao seu modo, expansivas e cósmicas essas pinturinhas que aqui vemos.

Por fim, é inevitável reconhecer que o conjunto que apresentamos nesta mostra habita, antes de tudo, uma casa, reforçando assim o convite ao doméstico. Quando o Auroras se fundou como um espaço de arte, há seis anos atrás, foi com uma exposição coletiva de Pequenas Pinturas que tudo começou. Seguimos aqui exatamente o mesmo princípio. Não há recursos narrativos ou temáticos que justifiquem a aproximação de todos esses nomes. O que os une, o que nos une, é o amor pelo pequeno, o desejo de jogar com ele e observar quantos infinitos cabem em cada um desses fragmentos. Dividimos o conjunto em dois atos e esperamos que o público possa costurar seu próprio percurso, topando, de um cômodo ao outro, com essas estranhas criaturinhas. Reforço que o pequeno, na sua intimidade, é o que torna a companhia possível – ele muitas vezes nos requisita vizinhanças e agrupamentos, a prática de estar-junto. Aqui, em grande quantidade, as pequenas pinturas são um povoado de espécies ainda desconhecidas por nós, a um só tempo estranhando e aninhando a casa.

 

Pollyana Quintella