Luisa Brandelli
22 Junho - 31 Agosto 2024
Luisa Brandelli
22 Junho - 31 Agosto 2024

O auroras tem o prazer de apresentar uma nova exposição de Luisa Brandelli. Ocupando dois espaços, a artista mostra um conjunto de trabalhos da sua série de miçangas, fotografias e uma peça de latão, além de um novo corpo de trabalhos pictóricos/escultóricos sobre papelão.

Existem aspectos que remetem à uma estética adolescente nessas obras. Seja pelas cores fortes – quase florescentes de algumas de suas obras de miçangas – ou pelos dois autorretratos que mostram o desconforto da autossexualização da artista na transição para sua vida adulta; mas também pelos materiais que a artista coleciona e utiliza em sua obra “sem título” que remetem à esse universo. São bijuterias, penduricalhos, um iPod (que marca por si só um recorte temporal, sabe-se lá que músicas estão ali dentro) e toda sorte de coisas que poderia se achar sobre a escrivaninha do quarto de uma adolescente do início dos anos 2000. As obras operam dentro de lógicas de superficialidade, isto é, as coisas acontecem na superfície: no reflexo do vidro das fotografias muito escuras; de outra maneira, na maneira direta e achatada de “exotic juxtaposition of rich and poor”; ou ainda no preenchimento lento e constante, cheio de erro e improviso que constitui os trabalhos de miçangas.

Há também uma pseudo-contradição entre uma tradição minimalista que a artista adota e uma profusão de detalhes – que indicam uma temporalidade alargada – detalhes estes que apontam, de novo, para uma dimensão íntima e pessoal (mesmo que muitas vezes produzida através de commodities de massa). Por fim, pode-se argumentar que existem elementos que apontam, se não para uma dimensão de classe, necessariamente, para uma questão de valor e do gesto artístico. Esse gesto, nos trabalhos de Luisa, são contaminados por pequenas marcas e sujeiras do trabalho mínimo e impreciso da mão. A artista não considera que exista uma hierarquia entre materiais, nem entre procedimentos. No final das contas, o que é elevar o papelão (quiçá o mais mundano dos materiais) à obra de arte com um gesto tão simples? O toque da artista, literalmente o “pózinho do pirlimpimpim” que acumula nas dobras do papelão é tudo que é necessário para que a condição desse material se transforme completamente. Parece um pouco carnaval. Momentaneamente o mais baixo dos baixos fantasia-se – tanto no sentido de seu vestuário quanto na conotação imaginativa, de projeção – como o mais exuberante membro da realeza. Talvez seja isso que a adolescente projeta no seu quarto enquanto escuta Destiny’s Child e organiza sua caixinha de jóias e outras bugigangas.

Vistas da exposição
Fotografias: Ding Musa
Obras:
Fotografias: Ding Musa
Sem título, 2024
Miçangas de vidro, miçanga de plástico, pelo de gato e fio de costura sobre tecido de lã
186,5 x 140 x 3,5 cm
Sem título, 2024
Miçangas de vidro, materiais variados, fio de costura sobre tecido de lã e moldura de alumínio
190 cm x 140 cm x 4 cm
Sem título, 2024
Miçangas de vidro, pingentes de metal, pingentes de strass e fio de costura sobre tecido de lã
150 x 130 cm
Sem título, 2024
Papelão, fio de nylon, cola branca e glitter
18,5 x 26 cm
Sem título, 2024
Papelão, fio de nylon, cola branca e glitter
27 x 34 cm
Sem título, 2024
Papelão, fio de nylon, cola branca e glitter
23 x 25 cm
Sem título, 2024
Papelão, fio de nylon, cola branca e glitter
19 x 15,5 cm
Sem título, 2023
Latão e jornal
28 x 32 cm
Sem título, 2024
Papelão, fio de nylon, cola branca e glitter
30 x 25,5 cm
Sem título, 2024
Miçangas de vidro, paetês, borracha e fio de costura sobre tecido de lã
130 x 186 x 3,5 cm
sobre a artista

Luisa Brandelli (1990, Porto Alegre, vive e trabalha em São Paulo) desenvolveu seus primeiros trabalhos em 2015. Em 2016 participou da sua primeira exposição ao ser selecionada para o Abre Alas da galeria A Gentil Carioca. Participou de exposições em galerias como Bolsa de Arte, Fortes D’Aloia e Gabriel, A Gentil Carioca, entre outras; e espaços públicos como Casa de Cultura Mario Quintana, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul e Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, onde realizou a exposição individual “Algum lugar muito, muito selvagem” em 2022. Neste mesmo ano ganhou o prêmio residência no Instituto Inclusartiz pela participação na exposição Hora Grande, na SP-Arte. Em 2021 ganhou destaque no festival de fotolivro da Revista Zum com a publicação “Revista Urgência”.

Jailton Moreira escreve sobre o trabalho da artista: “Há uma genealogia no minimalismo e na arte conceitual, porém a artista entorta estas referências e suas ambições de pureza e precisão. Os elementos que ela usa são gatilhos contextuais que recrutam lugares, vozes e clichês. Luisa tem um gosto pelo enfeite barato, pelo brilho fácil e ambicioso que busca um upgrade pelo simples jogo de aparências. Encontra um espaço que aceita uma artesania precária, meio enjambrada, por saber que a atitude construtiva deve estar em confluência aos contextos que busca instaurar. No jogo superficial das aparências a densidade conceitual é atingida à medida que somos coagidos a nos posicionar.”