Abrem-se as cortinas, há uma tentativa de enunciação que resulta tão somente em uma vibração, ou ainda esse imperativo do dizer torna impossível terminar uma discussão. Essas pequenas cenas acontecem em diferentes ambientes do auroras, onde figuram objetos mecanizados, coreografias pré-programadas e aleatórias, sinais de luz, pinturas e vídeos. O que elas têm em comum é que parecem conter uma certa teatralidade na maneira como se apresentam.
Na exposição de Ilê Sartuzi no auroras, as ações parecem um começo sempre postergado, fadadas ao fracasso, ou encontram dificuldade na articulação de um sentido coerente. A tentativa de comunicação emite uma luz vermelha em código morse a partir do interior da casa enquanto escuta-se ruídos de outras partes. Formalmente, a repetição encadeia essas partes em um loop que abrange virtualmente todos os objetos. Isto é, a “vivacidade” das coisas é programada para que existam momentos de saturação de estímulos e outros de ações mais pontuais.
As escalas dos objetos variam de miniaturas, uma cortina para pessoas pequenas, algo do tamanho de brinquedos infantis e o padrão de manequins adultos. Eles remetem à universos de representações, seja pelos exercícios de imaginação infantil ou pelos elementos do teatro.
Pela natureza dos trabalhos, o horário de visitação da exposição é alterado, começando ao anoitecer. Dessa maneira, a mostra permanece desativada durante o dia. Nessa atmosfera, a casa é tomada por objetos inanimados enquanto cria-se uma possível narrativa de novos moradores.