O auroras tem o prazer de apresentar uma exposição com novos trabalhos de Ana Clara Tito e Tiago Tebet. Embora não haja a intenção de criar relações diretas entre as obras, ambas parecem se utilizar de processos de desconstrução para constituírem-se. É comum também aos dois trabalhos um interesse por extrapolar os limites da suposta bidimensionalidade da pintura (ou da imagem) e sua presença no espaço, criando volumes e fendas.
O conjunto de “foto-esculturas” que Ana Clara Tito mostra no auroras são formados por blocos de concreto com impressões fotográficas por transferência. O acervo fotográfico da artista acrescenta à essas novas obras, mais do que imagens, um espectro cromático de tons azulados e púrpura, resultado da transferência de tinta do papel para o concreto. Poderíamos contrapor esse acervo pessoal – que por fim revela-se muito pouco – com a crueza dos destroços de concreto, ruína de um projeto de construção. Elementos estruturais, como vergalhões e pedras, aparecem das entranhas desses objetos, misturados ainda não com redes de proteção da construção civil, mas com redes de vegetais de feira, aproximando novamente dois universos distintos. Grande parte das obras foram realizadas este ano durante sua residência na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), em São Paulo.
De outra maneira, as pinturas de Tiago Tebet também partem de gestos de ruptura e sutura. Em suas novas obras, o processo parte da conjunção de telas rasgadas que são reorganizadas sobre a superfície. Desse ponto inicial, que impõe uma série de desafios para a composição pictórica (uma vez que tumultua o plano de ação), o artista passa a compor intuitivamente. Esse procedimento foi iniciado por uma vontade de rompimento com o conjunto de trabalhos anteriores – mais objetivos e afirmativos em seus signos e gestos – literalmente rasgando partes dessas pinturas para florescerem novos caminhos. Depois de um intenso período de experimentação com a linguagem, como é recorrente na obra de Tebet, essa sugestão figurativa de flores com telas cruas começou a se tornar um elemento de interesse para composições mais soltas e plasticamente sensíveis.